Todo o produto Apple quando é lançado em uma categoria inédita cria um buzz em torno de uma possível nova e revolucionária forma de nos comunicarmos. Com o Watch não foi diferente e a minha idéia era tentar entender até que ponto isso pode ser verdade ou não.
Bom, primeiro é interessante entender que esta nova categoria se chama Wearables, ou computador para vestir. Sim, ele é um computador e não um relógio. A Apple vende como sendo o device mais pessoal que ela já criou… e isso vindo a empresa que criou o computador pessoal…. É difícil de imaginar que ele está em uma mesma categoria do Google Glass, por exemplo, mas a ideia de termos algo anexado no corpo é o ponto aqui. Receber informações diretamente da pele e poder deixar o smartphone no bolso são algumas das questões mais claras.
Como agora vestimos os eletrônicos, a tecnologia e a moda nunca andaram tão ligadas e dependentes. Usei o Glass durante vários meses e a primeira reação das pessoas era de estranhamento. Já no Apple Watch as primeiras observações foram elogios para o design. Sim, a Apple não foi tão ousada e mas talvez isso seja o que pode, estranhamente, salvar inclusive o Google Glass e outros futuros werables. O formato relógio é algo que tem a tradição de ser vinculado com informação, desde o clássico Casio calculadora até os relógio de exercícios. O óculos nunca teve este histórico e conseguir esta ruptura social pode levar um tempo. Assim como no iPod, a Apple está mais uma vez abrindo o caminho para que este mercado aconteça e as pessoas comecem a achar normal computadores anexados ao corpo. Em uma semana o Watch já vendeu mais que o Android Wear em toda a sua vida!
Ao escolher o formato de relógio para o seu primeiro wearable, a Apple entrou a fundo no mercado de relógios para poder ter uma aceitação social sem riscos. A gama de diferentes tamanhos, materiais, pulseiras e preços traduzem quase tudo que o mundo dos relógios produziu até hoje.
Por ter encomendado no primeiro dia eu fiquei sem muita escolha: acabei com o modelo intermediário de metal com vidro de safira e pulseira esportiva preta. O modelo esporte é de alumínio com o vidro parecido com o do iPhone. Em vários testes na Internet é possível perceber que safira tem menos contraste no sol, mas é mais resistente. Posso dizer que tem reflexo ao ar livre, mas é perfeitamente legível. Também posso afirmar que é resistente, dei algumas batidas e não tem nenhum arranhão nestes quase dois meses de uso.
A pulseira esportiva vem com dois tamanhos e nenhum dos furos ficaram 100% para mim. Quando faço esporte o pulso dilata e tenho que mudar o furo, ai fica um pouco frouxo. A Apple recomenda que o relógio não fique nem muito apertado e nem muito frouxo para que o sensor de batimentos cardíaco possa funcionar com mais precisão. As melhores pulseiras para isso são as que tem um “loop infinito” de imã para fixação. Mas estas não são boas para esporte… Experimentei na loja e adorei a segurança destas com imã, não cai de jeito nenhum. Na próxima viagem vou comprar uma de couro.
Falando de sensor cardíaco, depois do update 1.01, que saiu logo no começo, ele mede sempre a frequência cardíaca em repouso e nos exercícios. Antes ele media a cada 15min e a Apple resolveu mudar. Estes dados ficam em um App chamado o Health no iPhone. Todos os dados estão la e é só entregar para o médico ou personal trainer. Este talvez seja o aspecto mais revolucionário do Apple Watch e deve melhorar muito no futuro. Com este sensor sempre ligado o medo é que a bateria nos deixe na mão. Mas em nenhum dia eu tive menos do que 30% de bateria no final da noite. Em um dia de pouco uso é possível até tentar usar por dois dias seguidos, mas o esquema de carregamento por indução é muito fácil de usar. Alias, isto e o screen OLED (com componentes orgânicos) são usados aqui pela primeira vez pela Apple. Eu quero muito ver estas duas tecnologias no iPhone. O grande ponto dos visores de OLED é que tudo o que é preto na tela não consome energia. A Motorola fez até uma super interface para notificações para tirar proveito disso.
No dia-a-dia o que mais chama atenção é a nossa relação com as notificações do iPhone. Eu já usava o relógio Pebble, que foi o pioneiro dos Smartwatchs, e ele já me permitia olhar os alertas sem tirar o telefone do bolso. Mas no Apple Watch eu consigo reponder e interagir com os avisos. Nas mensagens do iMessage (ainda não WhatsApp…) eu respondo com emojis, voz ou frases previamente escritas. As três formas são super eficientes e encurtam muito o caminho da comunicação. Outra questão interessante é o Taptic Engine, que é o sistema de vibração que a Apple desenhou. Enquanto os sistemas tradicionais contam com um mecanismo que gira o Taptic Engine cria um efeito de leve toque. Uma sensação muito diferente e que pode ser amplificada nos nos ajustes de acessibilidade. Os novos iPhones 6s incorporaram esta engine.
Nos alertas de notícias, penso que o Watch está servindo com a primeira etapa na cadeia de leitura. Assim como eu percebi no uso do Google Glass, os wearables representam uma forma mais eficaz de percepção de uma notificação com o texto de uma notícia. Posteriormente, o usuário aprofunda a leitura em outras telas.
Neste mesmo sentido, o Watch tem uma outra função importante: ele é um microfone remoto para a Siri e pode ser usado sem as mãos. Me parece que isto pode ter um impacto grande no futuro. Tenho usado ainda mais a Siri para funções com enviar mensagens, criar lembretes e ligar o cronômetro enquanto cozinho.
Como ponto negativo, a atual forma de armazenar os Apps no iPhone e não no Watch faz com que demore um pouco para carregar em determinados momentos. Isso deve acabar com a versão 2 do WatchOS. Falando de Apps, me chamou a atenção quando abri o Watch pela primeira vez e muitos Apps que estavam no meu iPhone tinham extensão para o relógio. Me parece que está é mais uma vantagem clara da Apple sobre o Google.
Concluindo, a experiência de um dispositivo não só 1.0, mas também de uma categoria nova, foi surpreendentemente boa. Eu esperava mais bugs e Apps de terceiros não funcionando perfeitamente. Nestes dois meses eu me acostumei a captar dados de exercícios físicos, usar a Siri, receber notificações e ler noticias sem tirar o iPhone do bolso. Se isso ainda não são necessariamente um usos disruptivos eles tendem a ser amplificados. O mais importante é que com 3.6 milhões de unidades vendidas, segundo o IDC, a categoria de werables parece que começa realmente a existir.
Gostei:
Notificações significam o primeiro contato com a notícia ou informações
Sensores de exercício muito bem calibrados
Tecnologias novas para a Apple como display OLED e carregamento por indução
Hardware extremamente bem feito
Muitos Apps
Potencial de novos usos
Não Gostei:
Alguns Apps demoram para carregar (deve ser solucionado no WatchOS 2)
Gostaria de ver mais gestos para a interface como o Google tem explorado
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